segunda-feira, 14 de setembro de 2009

Arte de educandos Surdos




A importância da Arte na escola, lembrando que a escola aqui comentada trata-se de uma escola Bilingue, onde a clientela é constituída por educandos Surdos e sua comunicação se dá através da LIBRAS – Língua Brasileira de Sinais. Portanto a Arte não deve se resumir apenas em compreender o que é abstracionismo ou expressionismo, enfim... Mais, sim se preocupar com o resultado do processo de representação de algo, a interpretação, a compreensão, a contribuição que ela pode proporcionar a vida destes educandos e para a construção de uma Identidade Cultural própria desta comunidade escolar.

Com tema em mãos para a III Mostra Cultural das Escolas Estaduais de MS, sabido o interesse dos educandos pela pintura em tela, vivendo o momento da escolha das cidades para COPA 2014, onde o Tuiuiú teve papel importante na campanha e pensando na riqueza da Arte de Mato Grosso do Sul e em seu folclore se iniciou a primeira etapa deste projeto. A investigação foi fundamental para a escolha da “Lenda dos Tuiuiús” para um desenvolvimento e uma aprendizagem prazerosa. Após a escolha, o que seria trabalhado veio à preocupação desta arte-educadora em elaborar um planejamento em LIBRAS, onde o educando pudesse visualizar o tema facilitando a compreensão.

A segunda etapa - viu se a necessidade de muitas imagens, vídeos com imagens do Pantanal onde os Tuiuiús vivem como sobrevivem. Assim que a imagem foi apresentada diziam: “conheço, quando fui a Corumbá, vi muitos...”

“Tem um pintor daqui, que pintou estes Tuiuiús,...”

“como eles são bonitos...”

“Enfrente ao aeroporto tem esculturas de Tuiuiús são bem grandes.”

“... vi na internet na Campanha para Campo Grande ser uma das cidades subsede para copa”. Enfim, todos conheciam o Tuiuiú e queriam desenhá-lo. O que chamou atenção foi que apenas uma aluna do 5ª ano Noturno comentou sobre a lenda que sua avó contava a ela. Portanto, conhecer algumas imagens do Tuiuiú, seu habitat foi importante.

A terceira etapa - conhecer um artista natural de Campo Grande-MS, e de suas obras foi importante, cuja temática enfatiza os temas regionais e ecológicos. Portanto, estudar Cleir Ávila Ferreira Júnior, foi importante, principalmente pela natureza pantaneira estar presente em suas obras. Realizou-se a leitura de imagens apresentadas do artista, bem como imagens fotográficas, também conheceram um pouco da vida do artista. Vídeos, com o artista e outros priorizando identificar o local onde estes pássaros vivem suas características, um contato a mais com os Tuiuiús e seu ambiente para se familiarizarem mais com tema. Estas etapas foram importantes para se trocar informações e aumentar o conhecimento.

A quarta etapa - foi passar a lenda dos tuiuiús através da LIBRAS. O educador repassou as informações sobre a lenda e pediu que os educandos recontassem o que se entendeu. Também foi uma etapa enriquecedora, pois alguns alunos mais tímidos se esforçaram em recontar, porém apresentavam dificuldades e os colegas foram solícitos, auxiliando e proporcionando um ambiente acolhedor e agradável.

A quinta etapa - foi à interpretação através do desenho, trabalho individual. Onde a principio deveria ser selecionados os melhores para irem à etapa seguinte a pintura em Tela.

A sexta etapa - seria selecionar os melhores trabalhos para a representação em tela, pois dispúnhamos de pouco recurso e poucas telas com as medidas exigidas pela organização do evento. Então este educador resolveu, após verificar nas exigências colocadas pela organização do evento, que a pintura poderia ser em grupo, que seria justo elaborar este trabalho em grupo. Esta foi à solução, pois valorizaram todos os trabalhos, ninguém ficou magoado, todos poderiam realizar seus desenhos e pintura. Isto proporcionou uma interação entre a sala tanto a do 4ª ano como a do e 5ª ano. Porém teve que se pensar antes como poderia se trabalhar uma tela com várias mãos. Para que isto pudesse acontecer à tela foi dividida conforme a quantidade de alunos da sala, lembrando que em uma escola especial o máximo de aluno permitido por sala é dez, a tela foi delimitada com fita crepe conforme podem verificar na foto, onde cada educando escolheu o melhor local para realizar seu desenho preocupando com a harmonia da pintura final e que a mesma relatasse a Lenda dos Tuiuiús.

A sétima etapa - realizar sua composição no espaço delimitado com a preocupação de utilizar o lápis na tela adequadamente para não danificá-la; reproduzir de forma que facilitasse sua pintura; realizar um trabalho em parceria com os colegas.

A oitava etapa - um aluno por vez para realizar a pintura enquanto os demais observavam as instruções sobre pincelada, postura de mão, procedimento com a tinta acrílica, limpeza do material e cuidados para sua conservação, postura no cavalete, porém alguns preferiram pintar com a tela sobre a mesa. Porém se estabeleceu com a concordância dos educandos, que enquanto um colega pintava sua composição (o trecho dela) os demais realizavam as atividades referentes ao Planejamento do mês. A troca acontecia conforme o a disposição do educando ou quando finalizava seu trecho. Houve a colaboração e compreensão de todos. Isto facilitou o andamento das atividades.

A nona etapa – contextualizar, aconteceu de maneira espontânea, porém para finalização trouxe a tona alguns comentários importantes como as dificuldades encontradas, outros queriam pintar mais, outros pediram mais aulas de pintura em tela, alguns relataram, que acreditavam, que seria mais fácil pintar e entenderam quando a educadora explicou que desenhos muitos pequenos e com muitas informações dificultam no momento da execução da pintura, principalmente para aqueles que ainda não tem muita intimidade com estas ferramentas. Mais, todos ficavam admirados com o resultado da tela a cada aula.

A décima etapa - a mais difícil a escolha de apenas uma tela. Sabendo dos esforços de todos, da dedicação, do trabalho em equipe ali presente, percebendo em todos os grupos um amadurecimento, escolher uma tela somente foi uma tarefa árdua. Alguns se preocuparam em não ser seu grupo o escolhido, porém o educador lembrou que todos ali eram vencedores, mais como tudo em que, concorremos existem regras, as quais deveram respeitar para o fortalecimento, crescimento e aprendizagem enriquecedora para nossa vida. Nem sempre podemos ganhar e aprendemos quando não somos vencedores. Para exercitar este sentimento é importante se refletir em qual tela eles realmente votariam independente de sua participação, uma escolha honesta e justa. Também deveriam comentar o porquê de sua escolha, lembrando que as criticas são bem vindas quando são construtivas e servem para o nosso amadurecimento.

A décima primeira etapa e última etapa – após escolha da tela para ser enviada para a III Mostra Cultural das Escolas Estaduais de MS é a hora de avaliar o resultado do projeto pelo educador e educandos. O objetivo geral do presente projeto não era realizar um estudo profundo, nem mesmo levar à exaustão a respeito do folclore de Mato Grosso do Sul, mais sim iniciar a vontade em desenvolver a identificação do processo do folclore de Mato Grosso do Sul. Conhecer a lenda dos tuiuiús, enfatizar a riqueza de conhecimento existente em nosso Folclore. Proporcionar aos alunos um ambiente onde eles pudessem reconhecer questionar, analisar, criticar e discutir acerca do Folclore de MS e de composições e do processo artístico do pintor Cleir Ávila Ferreira Júnior, que utiliza o Pantanal como tema em sua obras, realizar leitura de Imagens. Observar a harmonia de cores, traços, pincelada do artista. Recontar a Lenda dos tuiuiús em LIBRAS com o grupo. Provocar nos educandos à imaginação, a criatividade, a troca de informações, a atenção, concentração; Conhecer técnica de pintura em tela; Contextualizar. Portanto, acreditar que: se os objetivos foram atingidos, o resultado final foi positivo não está errado, porém se os objetivos foram atingidos pode se dizer que houve um crescimento. Percebe-se no grupo, aproveitamento com maestria no conteúdo ensinado, principalmente através da troca entre o grupo. A análise, que faço do desempenho pedagógico é positiva. Conseguir demonstrar para os alunos, que a produção de uma obra visual não é tão simples quanto pensamos e envolve vários fatores, além de dedicação, atenção, sensibilidade artística. Muitos alunos, no decorrer da execução do projeto, diziam que não imaginavam poder estudar sobre este tema, o que demonstra se tratar de um assunto que desperta a curiosidade e o empenho. Isto fez com que se interessassem cada vez mais pelas aulas. O retorno que eles deram durante as aulas foi importante para se perceber a importância do trabalho da arte-educação na educação dos Surdos. A arte pode ser desenvolvida onde menos esperamos, e o desempenho do educador, aliado ao retorno e à troca de conhecimento com os alunos, faz aprimorar a técnica, desenvolve outros tipos de visão e interpretação com relação a maneira de se trabalhar em sala de aula durante o projeto.

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